O vazio da Refinaria

Desenho da torre. Imagem: Acervo de Eziquio Neto.

Desde a década de 1970, quem chegava em Caxias pela então Rodovia Federal, era recebido pelo mais novo cartão de visita da cidade. A palavra Caxias estava pintada na parte mais alta. Ela estava ali, imponente, como um novo símbolo de progresso da indústria caxiense. Era a torre da Refinaria de Óleo de Babaçu, propriedade do incansável comerciante Alderico Silva. Quando na década seguinte a BR mudou seu traçado deixando de passar pelo centro da cidade, aquela estrutura voltara-se aos moradores locais, sendo adotada como referência ao novo bairro que acabou recebendo o nome de Refinaria.

Nesse mesmo período a Refinaria foi adquirida pela Indústria de Óleo Coringa, passando-se a ser conhecida como a ‘torre do Coringa’. Mudou sua denominação popular, mas a simbologia continuava. Mesmo com o fechamento da fábrica ela permaneceu viva a todos que por ali passavam. Assistiu o fim de suas atividades industriais, mas acompanhava o crescimento habitacional da região com a chegada de novos moradores. E vice-versa. Pois sem muitas áreas públicas de sociabilidade como praças ou parques na região em que os moradores pudessem compartilhar suas convivências, eram nas portas das casas sob a vista da torre que as histórias iam surgindo.

Até que em 2019 o antigo parque da Refinaria foi vendido, desmontado e dividido em lotes. A estrutura da fábrica demolida dando lugar a uma grande rede varejista, restando apenas a torre. Até que na madrugada do último dia 20 de setembro, a derrubaram.

No meu recém-lançado livro ‘Por Ruas e Becos de Caxias’, na página onde falo sobre a antiga BR (e também antiga Avenida Central), hoje Avenida Comendador Alderico Silva, destaco a história da Refinaria e sua importância para o desenvolvimento daquela localidade. Assim está a descrição na foto da avenida: “Ao fundo, a estrutura da caixa d’água da Refinaria de óleo babaçu, símbolo do bairro Refinaria”.

Sim, era isso que caixa d´água era, um símbolo do Bairro Refinaria.

Nas redes sociais foi visível o sentimento de lamento quando saiu a notícia de sua destruição, causando forte comoção nos caxienses. Era quase unânime a tristeza demonstrada nos comentários junto das fotos da torre, tanto de fotos antigas quanto as com ela ao chão. A comparação feita com o acervo histórico e arquitetônico foi imediata, pois alguns achavam que ela estava protegida. Já outros a olhavam apenas como uma velha estrutura sem função, ocupando espaço ou atrapalhando o desenvolvimento. Nada tinha a ser preservada, pois não era tão antiga.

Sim, a caixa d´água era um patrimônio. E sim, sua construção era recente comparada a outros imóveis do século XIX e XX espalhados pela cidade, não sendo portando tão ‘antiga’.

Patrimônio é tudo aquilo que é de valor a um povo, sendo fundamental sua discussão para estabelecer uma sociedade a qual queremos desenvolver. É uma identidade nacional, estadual, municipal ou local. Um bem patrimonial só tem valor quando a ele é atribuído um sentimento de pertencimento. Uma edificação como uma torre de caixa d´água não tem um valor em si, mas ele passa a ser importante quando um determinado grupo social atribui a ele esse valor.

E foi esse valor cultural, um sentimento de pertencimento, que o morador da Refinaria e o caxiense de uma forma geral deram aquela estrutura de concreto. Patrimônio histórico não significa idade, mas identidade. E foi isso que despertou todo esse sentimento de perda nas pessoas.

Mas é preciso deixar uma coisa clara: não houve crime ou qualquer irregularidade na demolição. A torre não estava no perímetro do centro histórico de Caxias e também não estava na lista de bens tombados pelo município, o que lhe garantiria a preservação. Mas convenhamos, foi uma falta de sensibilidade e de planejamento de quem adquiriu o terreno em não buscar conhecer melhor o local de seu futuro empreendimento.

Existem muitos patrimônios como esse por Caxias que estão desprotegidos e que deveriam ser estudados, catalogados e entrarem em discussão com a comunidade para que seja tombado como patrimônio material da cidade. Só assim se garante que um bem patrimonial continue a existir fisicamente e culturalmente. Mas como muitos símbolos de Caxias, a torre da Refinaria, ou do Coringa, não existe mais.

Quando o complexo fabril foi vendido, escrevi o artigo ‘Precisamos de mais museus’, alertando a necessidade de obter alguns objetos daquela fábrica para, quem sabe um dia, construirmos um museu da indústria caxiense. Mas nada fora feito e tudo foi destinado ao ferro velho. Era visível que a torre teria o mesmo destino. E assim foi.

A partir de agora passa a existir um sentimento de ausência naquela parte da cidade. Perdeu-se sua referência. É o vazio da Refinaria.

Início do futebol em Caxias

Solenidade antes da partida de futebol no Estádio Duque de Caxias, no Largo de São Sebastião. É possível ver ao fundo o portão do Cemitério dos Remédios. Atualmente não é mais possível ver o cemitério devido a construção da Escola Duque de Caxias. Imagem: Acervo IHGC.

O futebol como conhecemos hoje surgiu na Inglaterra em 1863, com a organização da associação deste esporte em Londres. O brasileiro Charles Miller em uma viagem aquele país trouxe consigo duas bolas do novo esporte e assim surgia o futebol no Brasil. Inicialmente era um esporte da elite, praticado por jovens da alta classe e proibida para os negros, mesmo com a abolição da escravatura. Demorou-se alguns anos até que esse esporte se populariza-se no meio operário, surgindo os primeiros clubes de futebol.

No Maranhão o futebol chegou no início do século XX, justamente nesse meio de trabalhadores surgindo o primeiro time do estado, o Fabril Atlétic Club, fundado em 1907. O proprietário da Companhia Fabril Maranhense, Joaquim Moreira Alves dos Santos, o Nhozinho Santos, foi o responsável pela fundação do futebol maranhense quando trouxe de viagem alguns acessórios para a pratica do esporte. Na área da fábrica da companhia, a Fábrica Santa Isabel, aconteceram as primeiras partidas de futebol no Maranhão entre os clubes das fabricas de São Luís.

Em Caxias, o futebol chegou logo após a capital, por volta da década de 1910. O esporte logo se tornou uma paixão dos caxienses. Os praticantes eram trabalhadores das fábricas, militares, membros de sociedades como União e Centro Artístico ou jovens da alta classe. O primeiro time que se tem notícia em Caxias é o Caxias Sport Club, fundado em 18 de janeiro de 1917.

As primeiras partidas de futebol na cidade aconteceram na Praça da Independência, atual Praça Dias Carneiro ou Panteon. A área era um grande espaço de piçarra, areia e capim, sem arborização, o que facilitava a prática do esporte. Em dias de jogos as autoridades locais, além de membros da alta sociedade, se faziam presentes e até faziam discursos antes das partidas. Outro atrativo eram as bandas de músicas que animavam os presentes. 

Na falta de rádio local as partidas eram narradas nos jornais impressos, como o ‘Voz do Povo’, que descrevia com emoção como tinham acontecido os jogos, dando detalhes dos principais lances e jogadores.

Um outro espaço pioneiro no futebol caxiense foi o Largo de São Sebastião. Com a fundação do São Sebastião Sport Club, em 1917, também foi providenciado a construção do campo de treino do clube, pois era comum cada time ter o seu próprio campo. O local escolhido pelo S.S.S.C. foi uma área plana neste Largo, aberta para a construção de um hospital de caridade sob a liderança do médico humanitário dr. Miron Pedreiras. Mas com a falta de apoio financeiro para erguer esse hospital, a obra acabou abandonada, ficando a estrutura inacabada, o que servia de arquibancada para quem assistia as partidas de futebol.

Foi nesse local que foi fundada, em 1939, a Liga Esportiva Caxiense que passou a organizar o futebol caxiense e incentivando jogos entre times do interior, levando os clubes até a capital. Em 1940, o Interventor Paulo Ramos assinou Decreto Estadual para a construção de um estádio de futebol em Caxias em parceria com a Liga.

Em 1948, quando a Sociedade Humanitária Caxiense resolveu levar adiante a construção do hospital idealizado pelo Dr. Pedreiras, voltou ao Largo de São Sebastião onde realizou uma cerimônia de lançamento da pedra fundamental do futuro hospital naquele ano. O evento contou com diversas autoridades, inclusive com o Governador do Estado Sebastião Archer e o Senador Vitorino Freire, que garantiram que o estado ajudaria nessa obra.

Assim, criou-se um impasse pois a área do antigo hospital agora era o campo de futebol da Liga Esportiva, que acabou requerendo legalmente o terreno. Dessa forma o comerciante Alderico Silva, membro da Sociedade Humanitária, comprou um terreno na Rua Aarão Reis e o doou para a construção do hospital que recebeu o nome de Hospital Miron Pedreiras, inaugurado em 1956.

O campo improvisado do Largo de São Sebastião acabou virando o Estádio Municipal Duque de Caxias, onde aconteciam as partidas oficiais do futebol caxiense e onde os times de fora vinham se apresentar. Em 1979, o Governador João Castelo mudou o estádio para a nova área urbana da cidade, o conjunto habitacional do IPEM, no Seriema e no local do antigo campo, ergueu o Ginásio de Esportes João Castelo.

O Estádio Duque de Caxias permanece até os dias atuais naquele bairro, recebendo partidas de futebol de campeonatos municipais, estaduais, além de eventos para o grande público. Ao lado do estádio, está a sede da Liga Caxiense de Futebol – LCF.

Conheça mais sobre o futebol e os locais aonde aconteceram as primeiras partidas no livro ‘Por Ruas e Becos de Caxias’.

Jornal Voz do Povo, 1936. Assim eram narradas as primeiras partidas de futebol em Caxias. Imagem: Acervo Digital da Biblioteca Estadual Benedito Leite.

Obrigado Milson Coutinho

Partiu nesta semana (04/08), um desses personagens que transformam nossa vida para melhor. Sim, transformam porque quem faz literatura, como a histórica, muito mais do que elevar nosso conhecimento teórico nos instiga a questionar o presente, refletir decisões sócio-políticas e entender melhor os acasos e tragédias passadas. No meu caso, esse personagem foi Milson Coutinho.

Recordo que desce criança quando vivia na biblioteca do meu pai, folheando livros em busca de ilustrações para poder copiar em meu caderno de desenho, certo dia vi aquele livro de capa azul com um simples rabisco do poeta Gonçalves Dias, ladeado por duas palmeiras. Era o ‘Caxias das Aldeyas Altas’, datado de 1980.

Não recordo se existe na bibliografia de Caxias um livro anterior a este que trate de forma completa a história de Caxias. Por décadas, o livro que serviu de base para todos os historiadores que buscavam estudar a nossa história foi o Dicionário Histórico e Geográfico da Província do Maranhão, de Cesar Marques (1870), aliás, usado até os dias atuais. Outros volumes que relatavam Caxias vieram em seguida, como os de José Ribeiro do Amaral, Abdias Neves, as Enciclopédias dos Municípios do IBGE, entre outras publicações que fizeram registros dos municípios maranhenses. Mas esses livros apenas relataram os registros de César Marques, ou então, citavam a localidade Caxias durante a Balaiada ou Adesão. Sem falar nas biografias de Gonçalves Dias, Coelho Neto e Vespasiano Ramos, que também citavam a cidade como terra natal dos ilustres e era possível extrair alguma informação. O ‘Caxias das Aldeyas Altas’ foi um livro sobre a cidade de Caxias. 

O folheava sem muito interesse, pois criança adora livros com figuras e como aquele não havia nenhuma, apenas lia uma ou outra página por pura curiosidade. Esse foi o meu primeiro contato com a história de Caxias. Por muitos anos ele ficou lá, no meio de muitos livros e por pouco não foi jogado fora com as limpezas que minha mãe fazia na casa jogando ‘coisa velha’ e objetos acumulados. Mesmo com o carinho que meu pai tinha pelos livros, um ou outro que não foi guardado de forma adequada e estava repleto de mofo e traças, era descartado.

Já adolescente e curioso, lembrei daquele livro nas coisas de meu pai e fui em busca dele na esperança de conhecer mais sobre minha cidade. Será se foi para o lixo? Será se alguém o pegou? Pensava enquanto remexia prateleiras e armários em meio a tanto papel disperso. Achar aquele livro quase perdido foi como descobrir um tesouro. E na verdade foi. Pois redescobrindo aquele volume, me despertou uma paixão por Caxias, tamanha era sua vocação história em meio a tantas glórias próprias que a incluíam na história nacional.

Quando montei meu primeiro site da internet sobre a cidade, em 1998, foi o velho livro azul que serviu para escrever sobre a história de Caxias. Na verdade, fiz uma cópia dos textos ali contidos sobre a Adesão de 1823, a Balaiada e sobre personalidades como Gonçalves Dias e Coelho Neto. Se serviu para que eu conhecesse a história, serviu para muitos internautas, estudantes e pesquisadores que não possuíam o livro. Afinal, este foi o primeiro site sobre a cidade de Caxias em um período em que a internet ainda era remota e era inexistente bibliografia histórica local. Em 2005 o livro foi reeditado pela Prefeitura Municipal, revisto e ampliado, também com fotos coloridas da cidade e seus principais pontos históricos.

Outro livro que causou grande impacto em mim sobre valorizar ainda mais a minha cidade, foi ‘Caxienses Ilustres’ (2002). No dia de seu lançamento em Caxias, no auditório da Academia Caxiense de Letras, solenidade ocorrida em 10 de agosto de 2002, eu estava em São Luís em período de aulas da faculdade. Tentei de todas as formas ir a este evento, pois adorava as festas da ACL em que exalava cultura e história. Mas infelizmente não foi possível estar presente. Liguei preocupado para minha mãe e a convenci de ir até aquela festa apenas para comprar um volume do livro e ainda, conseguir um autografo do autor. Minha mãe que não era de sair e muito menos ir a festas e eventos sociais, foi e ainda conseguiu o livro com dedicatória em meu nome.

Caxienses Ilustres traz uma lista, incompleta claro, pois todas as listas são incompletas como afirma sempre meu confrade Carvalho Junior, de caxienses que se destacaram de uma forma ou de outra, nacionalmente ou não. Foi uma descoberta complementar a de ‘Caxias das Aldeyas Altas’. Neste livro, conheci caxienses que nunca houvera falar, como Celso Antônio Silveira de Meneses o qual passei a admirar imediatamente. Como pode uma cidade desse ‘quilate’, com tanta personalidade, ignorar completamente seus filhos e suas glórias? O fervor pela cidade em mim só cresceu desde então. Formado em arquitetura, retornei a Caxias onde passei a militar a favor de nossa história, patrimônio e cultura em geral.

Esses dois livros me ajudaram a transformar no que sou hoje. A bibliografia histórica caxiense deve muito a esse maranhense ilustre.

Guardo com muito carinho Caxias das Aldeyas Altas (as duas edições), Caxienses Ilustres, além de outros livros que igualmente serviram para minhas pesquisas. E quem diria que, anos depois, eu fosse seu confrade na ACL e no IHGC.

Milson de Souza Coutinho nasceu na cidade maranhense de Coelho Neto (09/03/1939) e faleceu em São Luís (04/08/2020). Escritor, pesquisador, professor, historiador, jurista e Desembargador. Foi Presidente do Tribunal de Justiça do Maranhão e da Academia Maranhense de Letras. Era Membro Efetivo de diversas academias e institutos. Em Caxias, da Academia Caxiense de Letras (Cadeira Nº10, fundada por Osmar Rodrigues Marques) e Membro Fundador do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias (Cadeira Nº 24).

Obrigado Milson Coutinho!

125 anos da estrada de ferro

A estação em plena atividade. Imagem: Álbum do Maranhão, 1905, Gaudêncio Cunha.

Nesse ano de 2020, completa-se 125 anos da Estrada de Ferro Caxias a São José das Cajazeiras, atual município maranhense de Timon. A estrada foi um marco no progresso do Maranhão no final do século XIX. Época em que Caxias foi considerada a ‘Manchester brasileira’ com suas fábricas têxteis e forte produção comercial.

O sistema de transporte ferroviário surgiu na Inglaterra, na década de 1820, durante a segunda etapa da Revolução Industrial. A locomotiva era uma máquina movida a vapor e que andava sobre trilhos de ferro, sendo possível levar mercadorias e pessoas, inaugurando também linhas para viagens de passageiros. Essa maravilha tecnologia ajudou a impulsionar a industrialização e o comércio dos países que a adotaram devido a rapidez de locomoção entre as localidades.

A primeira estrada de ferro no Brasil foi construída em 1854, com uma extensão de 15km no município de Magé, Rio de Janeiro. Essa estrutura pioneira executada pelo Barão de Mauá tinha como objetivo o melhoramento do escoamento do café até o porto, de onde seguia para a Capital do Império e dali, as demais regiões brasileiras. Diversas estradas de ferro surgiram pelo país e no Maranhão, já na década de 1860, tentou-se a implantação deste sistema de transporte traçado pelo engenheiro Nicolau Vergueiro Le Cocq. Mas a exploração desse tipo de transporte só seria impulsionada a partir da instalação da República em 1889.

Com a criação da Companhia de Melhoramentos do Maranhão, presidida pelo engenheiro Aarão Reis, as obras da primeira estação férrea no Maranhão iniciaram em 1891, na prospera cidade de Caxias. A estrada ligava Caxias até as margens do Rio Parnaíba, em São José das Cajazeiras (já elevada a Vila de Flores) vizinha com a capital piauiense Teresina. A estrada passava também nas terras do Engenho D’água, importante fazenda e usina de cana de açúcar da família Castelo Branco da Cruz. Ali fio construída uma estação e que foi batizada de Estação Cristino Cruz, industrial e um dos políticos responsáveis pela sua construção, que ali residia.  

A inauguração ocorreu oficialmente em 03 de abril de 1895, mas só entrou em funcionamento meses depois com a primeira viagem entre Caxias a Flores, ocorrida em 9 de julho daquele ano. O jornal Gazeta Caxiense na edição do dia seguinte a esta viagem noticiou de forma bem crítica o início deste serviço:

A inauguração da estrada de ferro era um fato ansiosamente esperado pelo público, entretanto realizou-se friamente, sem festejos de natureza alguma, o que é muito para estranhar, se não para lamentar, atento a importância do objeto”.

O impresso nos informa dessa viagem inaugural importantíssima, mas ocorrida de forma tão lamentável. É preciso salientar que o jornal, naquele momento, fazia oposição a administração municipal que tinha como Intendente o Coronel Libânio Lobo. Era bastante comum menosprezar qualquer ação política do lado oposto ainda que a realidade tenha sido diferente.

Embora a estrada de ferro Caxias a Cajazeiras seja a primeira linha de trem intermunicipal no Maranhão, não foi a primeira estrada desse tipo no estado. A pioneira ferrovia foi implantada no Engenho Central, situado em Pindaré-Mirim, inaugurado em 1884. Essa pequena via férrea ligava o engenho a seu canavial.

Já no início do século XX durante os primeiros anos de atividades, a estrada necessitava de investimentos em sua estrutura e maquinário, o que nunca ocorrera. Quando veio a aprovação da construção de uma estrada férrea ligando São Luís até Teresina, no ano de 1905, esperava-se que desse novo fôlego aquela estação. Mas com o projeto iniciado em 1915, veio também a necessidade de uma nova estação, agora mais moderna. Até mesmo o local era outro, um pouco mais distante da velha estação. Essa mudança se deu provavelmente pela proximidade do antigo complexo ferroviário com o Rio Itapecuru, pois com a necessidade da construção de uma ponte metálica e o seu nivelamento com o terreno, o trajeto do trem ficaria inviável até os antigos galpões.  Com a inauguração da nova estrada, a antiga ficou desativada com seus imóveis servindo de oficina e depósito.

O tempo tratou de dar fim a estação, abandonada pela administração pública por décadas. O teto desabou, colunas e paredes caíram e com elas muitas lembranças e histórias de nossa cidade. Parte de suas estruturas mantém-se de pé graças a CEFOL (Centro de Folclore e Arte Popular de Caxias) que ocupa suas dependências sem apoio governamental ou de empresas, apenas com o intuito de manter viva a cultura popular caxiense.

Hoje, 9 de junho de 2020, completa-se 125 anos daquela primeira viagem da primeira estação ferroviária maranhense.

Caxias é história.

A estação atualmente, esquecida e abandonada. Imagem: Acervo do autor.

Rua Afonso Pena

Rua Afonso Pena no final da década de 1940. Imagem: Acervo Digital IBGE.

A Rua Afonso Pena é uma das ruas mais antigas de nossa Caxias e remonta nosso período de descobrimento e colonização.

Quando aqui chegaram os nossos primeiros colonizadores por volta do século XVIII, vindos da região do Piauí, deixaram estradas abertas por qual outros aventureiros também usavam para desbravar os sertões maranhenses em busca de terras para cultivar explorar. E uma dessas estradas é a atual Rua Afonso Pena.

Mas seu primeiro nome era Rua Grande. O motivo deste nome é devido a sua longa extensão que iniciava ainda na região rural, como o Ouro, e terminava no Largo do Poço, atual Praça Gonçalves Dias. Era quase que uma rua sem fim, pois ninguém sabia de fato aonde essa estrada iniciava e teminava, assim, sendo batizada de Rua Grande.

Quando o mineiro Afonso Pena, recém eleito Presidente da República fez uma viagem por todo o país para conhecer a realidade brasileira e suas necessidades, aqui chegou em julho de 1906, vindo de barco de São Luís em uma penosa viagem que durou dias. Mas em Caxias permaneceu apenas algumas horas. Pela primeira vez um chefe de estado pisara em solo caxiense e por esse motivo a Câmara Municipal se reuniu extraordinariamente no dia de sua chegada e mudou o nome do logradouro de Rua Grande para Rua Afonso Pena. O Presidente agradeceu a honraria, afirmando que ali era uma bela e extensa rua.

A foto acima faz parte do Album do Maranhão, de 1950, confeccionado pelo governo estadual em que descrevia todas as cidades maranhenses.

Podemos fazer uma leitura de uma cidade organizada. Pavimentação em paralelepípedo bem alinhados, pessoas nas calçadas e nas ruas, transitando normalmente pela rua Afonso Pena. Uma foto bem diferente dos tempos atuais, em que os automóveis (carros e motos) tomaram conta das vias como se fossem seus verdadeiros donos, expulsando os pedestres para as estreitas e irregulares calçadas da cidade. Esse é um registro de uma cidade que devemos ter como exemplo e trazer a cidade de volta a seu cidadão.

Justo Jansen Ferreira, um caxiense

1864 é um ano de grande impacto para nossa Caxias. No final daquele ano, em 03 de novembro, falecia de forma trágica o nosso poeta Gonçalves Dias no litoral maranhense. O ‘príncipe dos prosadores brasileiros’, nosso Coelho Neto, nascera naquele ano em 21 de fevereiro em uma casa modesta, já demolida, na antiga Rua da Palma, que hoje leva o seu nome. Mas outro caxiense, que merece estar no mesmo patamar de tantos imortais de nosso panteon, também nascera naquele ano.

         Filho de José Jansen Ferreira e Hermelinda da Costa Nunes Jansen Ferreira, nasceu no dia 16 de março na Travessa do Tesouro, popularmente conhecido como Beco da Estrela, atualmente Rua Zélia Feitosa Daniel. Sua avó, Maria Jansen de Castro Ferreira era irmã de Ana Jansen, a lendária dona

         Após fazer os estudos em Caxias, seguiu para São Luís e Salvador, matriculando-se na Faculdade de Medicina, tendo como colega de turma outro famoso maranhense, Nina Rodrigues. Mas acabou concluindo o curso no Rio de Janeiro em 1888.

         Em seu retorno ao Maranhão, passou brevemente por Caxias preferindo se estabelecer em São Luís onde foi residia na Rua dos Remédios no imóvel nº 6, e consultório médico na parte de cima de um sobrado situado a Praça da Assembleia. Na capital maranhense exerceu a profissão de professor de diversas instituições de ensino de renome, como Liceu Maranhense, Escola Normal, Centro Caixeiral e Instituo Humanidades. Foi ainda jornalista e escritor, deixando alguns volumes publicados.

         Apaixonado por geografia, foi a Europa onde aprofundou-se em cartografia e astronomia com o famoso francês Camille Flamarion, considerado o ‘poeta das estrelas’. Foi o responsável por elaborar uma das mais belas e fieis cartografia da ilha de São Luís em 1912 e outra do Estado do Maranhão.

Carta de São Luís confeccionada por Justo Jansen em 1912 / Acervo da Biblioteca Nacional – RJ.

Em 1916 assumiu a Cadeira Nº 04 da Academia Maranhense de Letras. Foi um dos fundadores do Instituo Histórico e Geográfico do Maranhão, sendo o seu primeiro Presidente de 1925 a 1930.

Esse grande caxiense faleceu em São Luís, no dia 18 de agosto de 1930. É Patrono da Cadeira Nº 19 do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias.

Neste dia 16 de março de 2020, completa-se 156 anos de nascimento de Justo Jansen Ferreira.

Uma fotografia e muitas histórias

Tirar uma foto hoje é tão banal que as pessoas registram até o alimento que está prestes a ingerir para logo em seguida, jogar nas redes sociais. Momentos de diversão, no trabalho, viagens ou objetos pessoais expostos para que todos vejam sua vida na internet. Parece que as fotos hoje em dia são para os outros verem e não para guardarmos como um momento especial. No meu tempo de garoto, só adultos tinham maquina fotográfica, pois era caro ter de revelar um filme para poder conferir o resultado. Cada filme tinha capacidade de tirar 20 ou 30 fotos, mas muitas ‘queimavam’, ou seja, a foto dava algum erro, como desfocar ou simplesmente sair tudo branco ou preto. Esperávamos ansiosos para ver o resultado da revelação fotográfica e riamos com cada imagem, relembrando bons momentos vividos. Guardávamos os negativos para caso perdesse alguma foto, fosse possível fazer uma cópia.

Tempos atrás enquanto estava na Academia de Letras, o Manoel, funcionário da casa e que também é amante da história, chegou com um punhado de fotografias velhas e negativos, pois ele sabia que eu adoro fotos antigas de Caxias. Me relatou que certa vez andando pelas ruas, passou de frente a ‘Delfinlândia’, residência abandonada de José Delfino. Ele se deparou com uma serie de papeis e objetos jogados quase que no meio da rua, inclusive um grande e pesado cofre, tudo pertencente à família daquele importante comerciante. A casa foi abandonada e depois serviu para uma família que invadiu o imóvel e depois, removidos pela assistência social, foi ocupada por usuários de drogas. Foi assim que esse material foi parar na sarjeta e entre os entulhos, fotografias.

Muitas delas eram registros pessoais de José Delfino, esposa, filhos e netos. Esse coronel nascido em Pedreiras e residindo em Caxias desde jovem, montou um império comercial que só foi superado anos depois pelo seu irmão, Alderico Silva. Naquela época por volta de 1930 a 50, uma máquina fotográfica era um objeto de luxo, tão caro que um rádio (lembrando que na época ainda não existia TV disponíveis). E em seu belo palacete existiam várias fotos. Uma dela me chamou atenção, porem estava em negativo. Mas dava para ver momentos felizes de uma época quase de inocência em Caxias, onde crianças brincavam alegremente de bicicleta no meio da rua.

Negativo resgatado

Tirei uma foto do negativo e por meio de programas específicos, consegui chegar a imagem original, como se fosse a fotografia revelada. A rua é a Aarão Reis e o imóvel ao lado é a residência do então Governador do Maranhão, Eugenio Barros. Assim, essa foto é um importante registro também histórico pois traz a imagem original de como era a fachada da casa desse importante político maranhense, hoje já bem diferente.

Imagem restaurada por computação gráfica

Como a cidade era bela! Dá para ver a alegria contagiante das jovens, possivelmente as netas de José Delfino, passeando pelas ruas quando isso ainda era possível. Não sei se essa foto chegou a ser revelada pela família. Mas se um dia foi, imagino o carinho com que eles guardaram esse momento. E pensar que décadas depois tudo estava no lixo, abandonado. Mas graças ao Manoel, agora conseguimos guardar essa foto para os arquivos históricos de Caxias.

Caxias antiga: O Correios

Agência do Correios na parte debaixo do sobrado colonial

A travessa Desembargador Morato, localizada bem no centro de Caxias, é cheia de histórias de nossa cidade. Talvez, quem ali trafega por aquela via nem se dê conta disso. Essa correria diária nos tira essa parte da cidade de observar seus cantos com mais detalhes e curiosidades. Aquela travessa no século XIX era conhecida como Beco da Cadeia, devido ao prédio da Câmara e Cadeia que ficava no largo em que hoje é a Praça Dias Carneiro, mas que todos só conhecem como Praça do Panteon. Já após a metade do século XX, aquela pequena via de ligação entre uma praça e outra ficou conhecida como Beco do Correios, pois ali se instalou em imponente prédio para a época na sede da Agencia de Correios e Telégrafos.         

O serviço postal em Caxias iniciou em 1820 quando ainda éramos uma promissora Vila no meio do sertão. Não se sabe em qual lugar era essa agência de comunicações. Em 1905 o prédio estava em funcionamento na Rua das Flores (atual Gustavo Colaço), depois foi para o sobrado na praça Gonçalves Dias, rua 01º de agosto (atual Comendador Alderico Silva) e largo de São Benedito (praça Vespasiano Ramos). Quando mudou para esta última localização, a população se revoltou pois o Correios ficaria distante do centro, sendo necessário se dirigir até as proximidades da igreja de São Benedito para enviar e receber documentos. Vale lembrar que cerca de cem anos atrás, os limites da área urbana da cidade terminavam justamente atrás da igreja, no largo de São Sebastião. Com a junção do Correios e Telégrafos na Era Vargas no ano de 1931 (antes a Agencia de Telégrafos era independente, funcionando na rua Dias Carneiro – atual Afonso Cunha), A agencia do Correios e Telégrafos de Caxias passou a funcionar em um imóvel alugado pertencente a Eugenio Barros, na Praça da Matriz.

Antiga Agencia de Correios e Telégrafos (imóvel verde). Depois foi comprada por Isaac Pereira, atualmente pertencente a seus descendentes.

Passaram-se quase vinte anos até que uma sede própria era necessária. O engenheiro caxiense, recém-formado, Alexandre Costa, elaborou e construiu o prédio em estilo eclético (misturando o modernismo com art déco), onde foi inaugurado no mesmo dia do hospital Miron Pedreiras, dia 22 de janeiro de 1956, na presença do prefeito Aniceto Cruz, Governador Eugenio Barros e Senador Assis Chateaubriand. Após reformas internas que mudaram drasticamente o seu interior, o imóvel segue em plena atividade em meio aos camelôs e o pesado tráfego de automóveis, principalmente no horário de saída dos alunos do Colégio São José.

Agencia do Correios na trav. Desembargador Morato com praça Dias Carneiro. Fonte: Acervo Digital IBGE.

IPHAN chega a Caxias

46 - IPHAN chega a Caxias

Membros do IHGC com o Superintendente do IPHAN no Maranhão, Maurício Itapary (ao centro)

O dia 14 de janeiro marcou um momento histórico para a cidade de Caxias. Em uma solenidade no auditório do Instituo Histórico e Geográfico de Caxias, com a presença de membros efetivos, autoridades locais e sociedade em geral, o Superintende do IPHAN – MA, o geógrafo Mauricio Itapary, assinou a ordem de serviço para que a empresa vencedora da licitação faça a revitalização do complexo em no máximo 24 meses. A presença do IPHAN em solo caxiense é, sobretudo, simbólica. Sinônimo de preservação histórica e arquitetônica nacional, o órgão federal ao estabelecer uma obra sob sua orientação, deixa para a população e os gestores municipais e responsabilidade de ter um bem considerado patrimônio nacional.

Mas essa história começa bem antes e é repleta de lutas, promessas e decepções. E é importante saber o que se passou para se chegar a essa ordem e serviço.

Antes de tudo é necessário afirmar que se não fosse a atitude do dr. Arthur Almada Lima Filho, de ‘invadir’ o prédio da estação férrea da linha São Luís – Teresina, nada disso teria acontecido. O imponente prédio desde que fora desativado como estação, estava abandonado servindo de espaço de prostituição e encontro de usuários de drogas. O seu destino era o mesmo que os demais que fazem parte do acervo arquitetônico caxiense: destruição total.

Desde 2008, quando o IHGC ocupou suas dependências, vem-se tentando manter de pé parte da história de nossa cidade. Ainda assim existiam patologias em sua estrutura que necessitavam de reparos urgentes. Em 2013 um sopro de esperança chegou à cidade quando no auditório do IHGC, a então Superintende do IPHAN-MA, Kátia Bogéa, anunciou recuperação de parte do complexo ferroviário maranhense, o que incluía nossa cidade de Caxias. Um projeto arquitetônico que custou mais de cem mil reais fora feito por uma empresa de Belo Horizonte aguardando apenas sua execução. Os anos passaram, outras estações como a da cidade de Codó foram reformadas e inauguradas, enquanto Caxias continuava da mesma forma. Só muito tempo depois soubemos o motivo de Caxias não ter sido contemplada com a obra. A velha política que sempre nos custou bem caro, onde um mandante municipal é contrário ao estadual as coisas ‘não andam’ e assim, a contrapartida municipal para que a obra fosse tocada, sequer chegou a ser levada em consideração. Com o projeto debaixo do braço só nos restava aguardar.

Enquanto o Instituto sofria para manter suas atividades, sem nenhum recurso ou ajuda externa, vivendo apenas das mensalidades dos membros e sócios beneméritos, os problemas estruturais seguiam. E graças à intervenção do professor Jhonatan Almada, Reitor do Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão – IEMA, que o piso superior do IHGC não veio abaixo (segundo próprio engenheiro responsável pela obra). Uma reforma fora feita em 2018 nos salvando de um grande prejuízo.

Nas solenidades, no tradicional café da manhã ou no bate-papo diário do IHGC, o assunto sempre era a ‘futura obra’ que nunca chegava. O confrade Frederico Brandão, durante todo esse tempo, fazia uma peregrinação até a sede do IPHAN atrás de novidades e de alguma notícia boa. A resposta era sempre a mesma: manter a calma e esperança.

Até que em 2019 nosso Presidente recebe uma notícia que aguardamos a anos. Graças a recursos obtidos pelo Ministério da Justiça através de decisões judiciais (Fundo de Defesa de Direitos Difusos – FDD) foi aberto um edital para financiar projetos culturais pelo país. O projeto de Caxias, que já estava pronto, conseguiu ser inscrito pelo IPHAN-MA, onde acabou sendo contemplado.

Todos aqueles que diariamente lutam pela preservação da história desta cidade conhecem as dificuldades que é para ser ouvido. Uma peregrinação torturante em meio a desinteresses de muitos e interesses particulares de poucos, sempre em favor de si. E quem não conhece essa luta deveria conhecer, pois também interfere no direito de todos, inclusive no simples ir e vir. Uma obra sob orientação do IPHAN em Caxias é um aviso de que é importante sim, preservar e, sobretudo, manter um imóvel histórico devolvendo-lhe vida, uso e ocupação.

O nosso muito obrigado ao Dr. Arthur Almada Lima Filho e aos confrades do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias.

Rodrigo Otávio – Por Ruas e Becos de Caxias

 

A av. Rodrigo Otavio é uma importante via urbana que liga os bairros da Trizidela ao Ponte, além de toda zona oeste ao centro de Caxias. Mas você sabe quem é a personalidade que dá nome a essa avenida?

Rodrigo Otávio Teixeira nasceu em Caxias, na antiga Rua das Oliveiras (atual dr. Berredo) em 1871. Aqui recebeu as primeiras letras e seguiu para a capital São Luís para receber o científico. Em seguida rumou para Recife, centro de muitos maranhenses que pretendia seguir a carreira jurídica, se formando pela Faculdade de Direito daquele estado. Voltou ao Maranhão onde foi Promotor em diversas cidades até ser nomeado Juiz em Caxias no final do século XIX.

Na sua terra natal não só atuou nos tribunais como também nas linhas jornalísticas e no campo da política. Por mais de vinte anos ficou a frente do Jornal do Comercio, fundado pela firma de sua família, denunciando desmandos (ou quem não estava alinhado a ele) em Caxias e no Maranhão. Se alinhando ao grupo de velhos republicanos como Libânio Lobo, passou a adversário dos irmãos Coronel João Castelo Branco da Cruz e Cristino Cruz. Com o falecimento de ambos, assumiu como chefe do grupo Cruz, João Castelo Branco. Então, durante a chamada República Velha, Caxias assistiu dois grupos, os Castelo Branco da Cruz e os irmãos Teixeira, se revezarem a frente da prefeitura municipal. Seu irmão, o advogado Joaquim Teixeira Junior, foi prefeito de Caxias durante 1919 a 1921, quando o titular Libânio Lobo se licenciou do cargo. O Jornal do Comercio, que tinha suas oficinas na rua Aarão Reis, era ponto de encontro até de adversários que a cada derrota, ali se dirigiam para debochar e soltar foguetes contra o grupo rival. Certa vez sua oficina fora atacada e o próprio Rodrigo Otávio sofrendo atentado de pessoas que se sentiam ofendidas por suas colunas jornalísticas.

Em 1918 assumiu uma cadeira como Desembargador no Superior Tribunal de Justiça, mudando sua residência para a capital maranhense. Mas sua atividade política continuo como nunca. Na década de 1920 o Brasil vivia em constantes conflitos políticos, como o inicio do Movimento Tenentista. Em 1922, ocorrendo uma revolta em São Luís, onde o Governador Raul da Cunha Machado foi derrubado e em seu lugar assumindo uma Junta Governativa formada por Rodrigo Otavio Teixeira, Dr. Tarquino Lopes Filho, Raimundo Leôncio Rodrigues e Dr. Carlos Augusto de Araújo Costa. Onde fora dissolvida e os revoltosos presos. Em um julgamento que parou o Maranhão e lotou o tribunal, foram absolvidos e saíram livres nos braços do povo. Menos Raimundo Leoncio que cometera suicídio após o golpe.

Em 1925 após se aposentar como Desembargador do Tribunal, volta a residir em Caxias e participa ao lado de figuras como José Delfino e Eugenio Barros da chamada Aliança Liberal que apoiava a candidatura de Getúlio Vargas a Presidência do Brasil. Com a crise gerada nas eleições que culminou com a Revolução de 30, que derrubou o Presidente Washington Luiz, uma nova ordem se instalou no Brasil. E em Caxias, os membros da AL derrubaram o prefeito Francisco de Moura Carvalho e assumiram com a Junta Governativa Revolucionária composta por Rodrigo Otávio Teixeira, Joaquim Teixeira Junior, Eugenio Barros e Pedro Matos. A Junta nomeou o comerciante Benedito Joaquim da Silva para Interventor, que durou pouco mais de um mês no cargo, abrindo sucessivas vagas desde então.

Rodrigo Otávio se afastou da redação do Jornal do Comercio e das agitações da vida política, se recolhendo em sua residência no bairro Ponte, no largo Alto dos Negros. Ali ele faleceu em 1938 aos 67 anos de idade, sendo enterrado no Cemitério dos Remédios ao lado de familiares.

Em 1948, o prefeito Eugenio Barros nomeou a antiga Avenida Independência que inicia na Trizidela e encerra até a ponte sobre o riacho do Ponte, com o nome de seu ilustre morador, sendo chamada desde então Avenida Rodrigo Otávio.