Conselho da Cidade solicita desapropriação de áreas em Caxias

O Conselho Municipal da Cidade de Caxias – CMCC, enviou a Prefeitura Municipal um Parecer onde analisa três áreas na cidade de interesse histórico e solicita providências para garantir sua preservação. São elas:

A desapropriação do imóvel na rua 1º de Agosto conhecido como Delfinlândia por acreditar que o prédio foi abandonado e corre sério risco de ter seus elementos arquitetônicos destruídos. O conjunto arquitetônico colonial de prédios do século XIX, em frente a Delfinlândia, demolido e abandonado.

O Parecer ainda pede a desapropriação de um terreno localizado no Morro do Alecrim que serve como um mirante para a cidade e que também está abandonado. O terreno ainda está cercado por um muro, impedindo o acesso a vista de Caxias.

O Parecer e a reportagem da Sinal Verde são de agosto de 2014.

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Área abandonada no Morro do Alecrim. A cidade está privada de um dos mais belos pontos turísticos.

Paisagismo Ameaçado

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Quem gosta de registrar imagens de nossa cidade aproveite para ir agora ao pé do Morro do Alecrim e tirar aquela foto da vista do centro com a Igreja da Matriz em destaque, pois essa paisagem pode estar com os dias contados. É que um prédio pode ser erguido na rua 1º de Agosto com pavimentos superiores a dois andares, o que passará a integrar de vez o paisagismo de Caxias e esconder a parte de trás da igreja.

O Morro do Alecrim nos proporciona uma vista panorâmica de boa parte da extensão de nossa área urbana e rural. O aglomerado urbano formado as margens do rio Itapecuru, que se expandiu onde hoje é o centro, criou um traçado irregular por onde foram se estabelecendo nossos antepassados. As casas de taipa foram substituídas pelas grossas paredes de pedra com seus telhados coloniais de barro. As Igrejas levantadas acima desses telhados criou a imagem de uma cidade religiosa em que a sociedade se desenvolvia em seu entorno. No fim do século XIX, a chaminé da fábrica manufatora estabeleceu de vez o domínio da indústria têxtil no comercio, definindo então o símbolo da cidade. E em 1990 toda essa conjuntura foi tombada como interesse da sociedade.

O Decreto que delimitou o centro histórico de nossa cidade, definiu além de seus prédios ricos em arquitetura do século XIX e início do século XX, os seus monumentos imponentes, tombou também o paisagismo do centro. Engana-se quem acha que Paisagismo se resume a um ambiente com arborização. Paisagismo é o trabalho do espaço urbano, é projetar um sistema harmonizo entre lazer e conforto.

A Carta de Quito (uma das Cartas Patrimoniais que servem como normas de preservação em áreas históricas), escrita em 1967 pela Organização dos Estados Americanos considera que: “A ideia do espaço é inseparável do conceito do monumento e, portanto, a tutela do Estado pode e deve se estender ao contexto urbano, ao ambiente natural que o emoldura e aos bens culturais que encerra.”

O ambiente e seus componentes, neste caso a geografia e a distribuição urbanística de imóveis como as igrejas e a torre do Centro de Cultura, definem a identidade de nossa arquitetura. São bens adotados como símbolo representativo de nossa cultura. O que se tornou os nossos cartões postais.

Desafios da verticalização do centro

No início deste século, com a volta do crescimento econômico em nossa cidade, o setor imobiliário teve de se renovar e expandir. A necessidade crescente de desenvolvimento e modernidade atingiu em cheio a área tombada como patrimônio. Se até o ano de 2000, o centro de nossa cidade contava com apenas três imóveis com mais de dois pavimentos, em 2015 só na Rua do Comercio esse número já é superado.

Além do problema paisagístico, onde poderão se criar verdadeiros paredões, o crescimento vertical influenciará diretamente no fluxo de circulação de veículos no seu entorno, gerando mais necessidade de estacionamentos e consequentemente gerando engarrafamentos.

Mas a cidade precisa crescer e se desenvolver. O tombamento não pode ser um empecilho ao desenvolvimento econômico e nem esse desenvolvimento deve passar por cima de nossa história impondo a importância financeira acima dos interesses sociais. Caxias precisa estabelecer parâmetros na área urbana para a construção civil, garantindo ao comerciante seu retorno financeiro e garantindo a harmonia urbanística.

A verticalização dos imóveis não é um problema. A falta de normatização para sua verticalização sim. Um estudo aprofundado da área tombada, as vias em que permitem sua verticalização desde que tenham afastamentos evitando imóveis geminados, verticalização garantindo o espaço para veículos, verticalização das vias centrais onde não se “escondem” a paisagem, etc… São normas fundamentais para garantir a preservação da área paisagística.

Toda atenção em se preservar os prédios históricos deve se manter também para nossa área paisagística. A vista do Morro do Alecrim também é um patrimônio. É o nosso patrimônio. Se o prédio for construído, perderemos para sempre a vista da Igreja da Matriz. E em breve, outros monumentos, como a torre do Centro de Cultura correm o mesmo risco.

Deixo aqui um link para quem quiser se estender no assunto. É o artigo “Cidades Brasileiras: A pior verticalização do mundo” do arquiteto e urbanista Anthony Ling.

Eziquio Barros Neto é arquiteto e urbanista. Atualmente preside o Conselho Municipal da Cidade de Caxias.