Cemitério São Benedito

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Na praça Dom Luís Marelin, popularmente conhecida como Praça da Chapada, está localizado o mais antigo cemitério de Caxias, o de São Benedito. Situado na área central da cidade, ainda hoje recebe um grande número de enterros de famílias de classe média e alta, principalmente na sua área de expansão, feita no século XX. Sua área está inserida no Decreto Nº12.681 de 1990, que tomba o centro histórico da cidade.

História

Na época do Brasil colônia e até pouco tempo após a independência, membros de famílias tradicionais que ajudavam alguma irmandade na construção da igreja eram enterradas dentro dos templos ou então pagava-se para ter seus restos mortais em solo sagrado para a eternidade. Os não tão abastados e os mais pobres eram enterrados nas terras laterais ou nos fundos dos templos religiosos. Aos indigentes e escravos restava-lhes o enterro nas estradas fora da cidade ou ficavam a sorte de entidades como as irmandades de misericórdias, que lhe davam um enterro digno em terras para este fim. Em Caxias, o enterro desses indigentes era feito pela Irmandade das Santas Almas. Na metade do século XIX, foram criadas a Irmandade de São Benedito e Irmandade de Nossa Senhora dos Remédios.

Na França do início do século XIX, as primeiras ideias higienistas consideravam enterrar os mortos dentro dos templos religiosos e em seu entorno um meio insalubre e de grande risco a saúde pública. No Brasil, essa proibição veio com D. Pedro I em 1828. Houve no Maranhão uma certa resistência a esta proibição por parte da aristocracia, mas devido a graves epidemias em São Luís na década seguinte já estaria valendo a Lei. Embora proibido o enterro é possível encontrar nas igrejas de Caxias túmulos com sepultamentos após a proibição. Isso ocorreu por que havia uma brecha na Lei onde podia-se pagar uma multa para o sepultamento.

A proibição trouxe a necessidade da construção de um cemitério na cidade. Para manter a Igreja de São Benedito, concluída pelos devotos em 1815, foi criada a Irmandade do Glorioso São Benedito no ano de 1855. Essa Irmandade, com o apoio dos devotos e do poder público municipal, começou a construir o seu cemitério em 1858. Em 1861 o Cemitério São Benedito já estava benzido e pronto para receber os mortos de Caxias.

Características

Construído em um antigo largo que pertencia a então recém criada Freguesia de São Benedito, tem o formato retangular e se assemelha ao Cemitério dos Remédios. Tem muro de alvenaria com sete colunas distribuídas de cada lado encimada por pináculos. O portão principal tem destaque o seu frontão com uma cruz metálica acima. Sua distribuição é feita por uma aleia principal que a divide em duas quadras. Ao contrário do Cemitério dos Remédios que já construiu sua capela durante as obras, ela só foi locada e construída tempos depois em sua área de expansão ao fundo. É possível encontrar a última coluna com pináculo que delimitava o terreno original. Foi esse terreno que em 1859 o Bispo do Maranhão Manoel Joaquim da Silveira achou pequeno demais para a cidade.

Embora seja o mais antigo da cidade, restam poucos exemplares de sepulturas do fim do século XIX e início do XX. Elas estão distribuídas próximos a aleia que divide as quadras e do meio do terreno para o final. A explicação é de que os primeiros túmulos existentes no Cemitério São Benedito eram de pessoas simples, com covas sem muitos detalhes e volumetria. A medida que o cemitério recebeu maior número de pessoas houve a necessidade de abrigar novas sepulturas. Pode observar ainda hoje resquícios de muitos túmulos simples invadidos por outras sepulturas ao lado. No início do cemitério existem muitas sepulturas das décadas de 1930 a 80. Embora ainda hoje sejam enterrados os mortos nas sepulturas das famílias na parte da frente.

 Situação atual

Com a construção desordenada de sepulturas, muitos túmulos se perderam ou foram destruídos. Jazidos protegidos por gradis de ferro do século XIX simplesmente sumiram a sua lápide e identificação. O vandalismo também é crítico. Muitas dessas lápides e esculturas estão quebradas. As identificações de mausoléus imponentes estão perdidas para sempre.

cvista3A própria fachada do cemitério, tombada como patrimônio histórico, sofreu o mesmo destino das demais construções arquitetônicas de Caxias. Por volta de 2012 a sua cor original branca fora substituída pela tonalidade goiaba para se assemelhar da Igreja São Benedito. O muro baixo e vazado, supostamente protegido por gradis de ferro, foi preenchido para aumenta-lo, tirando assim sua arquitetura original do século XIX.

O cemitério de São Benedito é de responsabilidade da paroquia de São Benedito desde manutenção de túmulos a limpeza. Já a lei orgânica de Caxias garante que os cemitérios são públicos e devem ser administrados pelo município.

Valor Cultural

Pode parecer estranho, mas os cemitérios pelo Brasil apresentam grande valor arquitetônico e artístico de nossa história. A arte tumular, como é conhecida, é pouco difundida no Brasil. O Cemitério da Consolação em São Paulo é considerado um museu a céu aberto onde devido a grande visita de turistas disponibilizou visitas guiadas. Em seus túmulos estão várias obras de artistas do séc. XIX e de modernistas, além de personalidades históricas do Brasil. É lá que está a obra mais conhecida do artista caxiense Celso Antônio Silveira de Meneses, no tumulo de Lydia Piza Rangel.

No Cemitério de São Benedito estão enterradas algumas figuras ilustres da história de nossa cidade. Na entrada se destaca o mausoléu do Coronel Cesário Lima, importante político e comerciante de Caxias no século XIX. Na política estão: Numa Pompilo (prefeito) e Marcelo Thadeu de Assunção (Deputado Estadual e Prefeito); Os Poetas Nereu Bittencourt e Acrísio Cruz; Os padres Arias Cruz e Monsehor Mendes falecido recentemente; E ainda: Nachor Carvalho que foi responsável por trazer a energia para Caxias, Anfrisio Lobo um dos fundadores da Loja Maçônica Harmonia Caxiense em 1904 e pai do político e militar Aluísio Lobo, Antônio Gentil de Abreu um grande educador da cidade no final do século XIX entre outros.

Muita informação ainda pode ser descoberta no Cemitério São Benedito. É necessário uma grande pesquisa histórica e arqueológica em seus túmulos. Uma simples limpeza e remoção de vegetação e terra já seriam suficientes para colher mais informações. Só assim poderemos conhecer todo o valor cultural de nosso patrimônio.

Túmulos (clique na foto para ampliar)

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Jazido de Quitéria Joaquina da Silva Vianna, falecida 06 de setembro da década de 1870. Foi mandado construir por seu marido o Tenente Coronel Domingos José da Silva Viana. Domingos Viana foi uma figura importante em Caxias na metade do século XIX. Foi Juiz de Paz e delegado de Polícia. Na política era chefe local do Partido Conservador. Foi eleito junto com Gustavo Colaço a Deputado Provincial (Deputado Estadual na época) e faleceu em 1888. Não se sabe se o seu corpo está enterrado na frente do jazido.

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Detalhe da escultura em relevo de um anjo no mesmo túmulo.

c4Esculturas de dois querubins alados. As cabeças das estátuas foram destruídas recentemente pelo vandalismo comum nos cemitérios da cidade. Um dos querubins apresenta as asas e a do outro fora quebrada. A coroa de louros que ficava entre eles também foi quebrada restando apenas um pequeno pedaço. Entre os dois possivelmente ficava uma cruz de ferro ou uma outra escultura.

c5Mausoléu de Cesário Fernandes Lima. Importante comerciante e político caxiense nascido em 1854 e falecido em 1912. A sua casa e comercio em estilo colonial ainda existem nos três corações, esquina com a rua Porto das Pedras. Coronel Cesário Lima é pai do Desembargador Arthur Almada Lima e avô do também desembargador Arthur Almada Lima Filho. O mausoléu também abriga o túmulo de demais familiares. O Mausoléu tem friso com um frontão curvado logo acima com uma flor esculpida em relevo e dois pináculos. Acima uma cruz metálica com a inscrição 1914. Possivelmente a data da conclusão do mausoléu. Parte do mausoléu está revestido de azulejo, provavelmente da metade do século XX.

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Exemplo de túmulo antigo sem lápide e identificação.

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Detalhe de gradil de ferro do século XIX.

c8cTúmulo com proteção de gradil de ferro em estilo gótico parcialmente soterrado.

c9Mausoléu sem identificação. Pela sua volumetria, foi de uma figura importante da aristocracia caxiense do final do século XIX. Em seu friso, percebe-se que era rico em detalhes pois é possível ver desenhos em relevos. A cruz e escultura que existiam, perdeu-se. É possível imaginar que fosse um dos mais belos exemplos da arte tumular da época.

c10cDetalhe do friso: percebe-se os relevos decorativos em sua composição.

c11Detalhe de escultura de anjo em relevo no túmulo do capitão Domingos Desiderio Marinho. Membro do Partido Conservador e comerciante residindo no largo da Matriz, pertenceu a elite caxiense da metade do século XIX.

c12Túmulo com gradil de ferro sem identificação. Possivelmente sua lápide está soterrada.

c14aNos limites da área delimitada em 1858, há esse curioso túmulo onde se lê em sua lápide inacabada: “Aqui jaz Amélia Gulig natural da Inglaterra falecida a 7 de setembro de 1885. CA – Lembr de Seu F John Bridge”. Parte do epitáfio está preenchido e a outa metade apenas o contorno como se a lápide tivesse pressa para ser assentada. Não achei nenhum registro histórico dos dois em Caxias. Amélia seria mãe de John. Teria Amélia Gulig se casado com um brasileiro e vindo morar em Caxias? Ou toda a família inglesa vindo morar por aqui? Seria uma família de artistas em apresentação no teatro Harmonia? Minha opinião é de que John Bridge era um mecânico, vindo com a família trabalhar no parque industrial que se criava no Maranhão. Em 1885 já existia a Industrial Caxiense no bairro Ponte, onde muitos estrangeiros vieram a Caxias nesta época.

c15aCapela. A torre central foi construída posteriormente no século XX. O piso externo é de ladrilho hidráulico e o do interior já foi trocado por cerâmica nova.

c16Mausoléu mais alto do Cemitério São Benedito. Atrás é possível ver a última coluna com pináculo que demarcava o fim do terreno original concluído em 1861.

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Lápide com letras e folhagens em estilo Art Nouveau.

Conselho da Cidade apresenta projeto de Lei para Caxias

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O Conselho Municipal da Cidade de Caxias – CMCC, na presidência do arquiteto Eziquio Barros Neto, apresentou uma minuta de projeto de Lei referente ao parcelamento do solo urbano da cidade. Tal projeto de lei trata da parte de loteamento, desmembramento e demais normativas que tratem da divisão de terras na zona urbana de Caxias.

O parcelamento do solo é redigido pela Lei Federal Nº6766/79, onde dá aos munícios a responsabilidade de adequá-la a sua realidade. Conforme o arquiteto e urbanista Eziquio Barros: “A cidade de Caxias não tem leis urbanísticas regulamentares, como de uso e ocupação do solo, zoneamento e código de obras. Quando se faz um loteamento, se altera o espaço urbano da cidade. Sem regulamentação, esse loteamento pode prejudicar os caxienses e ainda seus futuros moradores. Essa lei de parcelamento vem a ajudar o município pois ela garante que as normas urbanísticas da cidade sejam atendidas.”

Manifesto dos Arquitetos de Caxias

O projeto elaborado pelo Conselho teve apoio dos arquitetos que atuam na cidade. Cada profissional recebeu uma cópia onde deu sua contribuição ao projeto, sendo assim um processo participativo dos urbanistas com os setores da sociedade civil organizada. Após o término das discussões os arquitetos assinaram uma carta onde apoiam a aprovação da lei em Caxias.

Conforme norma do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil – CAU, apenas arquitetos e urbanistas podem ser responsáveis por projetos de loteamento.

O projeto de lei será agora apresentado ao prefeito Leonardo Coutinho, onde em seguida deverá ser encaminhado a Câmara de Vereadores para apreciação.