IPHAN chega a Caxias

46 - IPHAN chega a Caxias

Membros do IHGC com o Superintendente do IPHAN no Maranhão, Maurício Itapary (ao centro)

O dia 14 de janeiro marcou um momento histórico para a cidade de Caxias. Em uma solenidade no auditório do Instituo Histórico e Geográfico de Caxias, com a presença de membros efetivos, autoridades locais e sociedade em geral, o Superintende do IPHAN – MA, o geógrafo Mauricio Itapary, assinou a ordem de serviço para que a empresa vencedora da licitação faça a revitalização do complexo em no máximo 24 meses. A presença do IPHAN em solo caxiense é, sobretudo, simbólica. Sinônimo de preservação histórica e arquitetônica nacional, o órgão federal ao estabelecer uma obra sob sua orientação, deixa para a população e os gestores municipais e responsabilidade de ter um bem considerado patrimônio nacional.

Mas essa história começa bem antes e é repleta de lutas, promessas e decepções. E é importante saber o que se passou para se chegar a essa ordem e serviço.

Antes de tudo é necessário afirmar que se não fosse a atitude do dr. Arthur Almada Lima Filho, de ‘invadir’ o prédio da estação férrea da linha São Luís – Teresina, nada disso teria acontecido. O imponente prédio desde que fora desativado como estação, estava abandonado servindo de espaço de prostituição e encontro de usuários de drogas. O seu destino era o mesmo que os demais que fazem parte do acervo arquitetônico caxiense: destruição total.

Desde 2008, quando o IHGC ocupou suas dependências, vem-se tentando manter de pé parte da história de nossa cidade. Ainda assim existiam patologias em sua estrutura que necessitavam de reparos urgentes. Em 2013 um sopro de esperança chegou à cidade quando no auditório do IHGC, a então Superintende do IPHAN-MA, Kátia Bogéa, anunciou recuperação de parte do complexo ferroviário maranhense, o que incluía nossa cidade de Caxias. Um projeto arquitetônico que custou mais de cem mil reais fora feito por uma empresa de Belo Horizonte aguardando apenas sua execução. Os anos passaram, outras estações como a da cidade de Codó foram reformadas e inauguradas, enquanto Caxias continuava da mesma forma. Só muito tempo depois soubemos o motivo de Caxias não ter sido contemplada com a obra. A velha política que sempre nos custou bem caro, onde um mandante municipal é contrário ao estadual as coisas ‘não andam’ e assim, a contrapartida municipal para que a obra fosse tocada, sequer chegou a ser levada em consideração. Com o projeto debaixo do braço só nos restava aguardar.

Enquanto o Instituto sofria para manter suas atividades, sem nenhum recurso ou ajuda externa, vivendo apenas das mensalidades dos membros e sócios beneméritos, os problemas estruturais seguiam. E graças à intervenção do professor Jhonatan Almada, Reitor do Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão – IEMA, que o piso superior do IHGC não veio abaixo (segundo próprio engenheiro responsável pela obra). Uma reforma fora feita em 2018 nos salvando de um grande prejuízo.

Nas solenidades, no tradicional café da manhã ou no bate-papo diário do IHGC, o assunto sempre era a ‘futura obra’ que nunca chegava. O confrade Frederico Brandão, durante todo esse tempo, fazia uma peregrinação até a sede do IPHAN atrás de novidades e de alguma notícia boa. A resposta era sempre a mesma: manter a calma e esperança.

Até que em 2019 nosso Presidente recebe uma notícia que aguardamos a anos. Graças a recursos obtidos pelo Ministério da Justiça através de decisões judiciais (Fundo de Defesa de Direitos Difusos – FDD) foi aberto um edital para financiar projetos culturais pelo país. O projeto de Caxias, que já estava pronto, conseguiu ser inscrito pelo IPHAN-MA, onde acabou sendo contemplado.

Todos aqueles que diariamente lutam pela preservação da história desta cidade conhecem as dificuldades que é para ser ouvido. Uma peregrinação torturante em meio a desinteresses de muitos e interesses particulares de poucos, sempre em favor de si. E quem não conhece essa luta deveria conhecer, pois também interfere no direito de todos, inclusive no simples ir e vir. Uma obra sob orientação do IPHAN em Caxias é um aviso de que é importante sim, preservar e, sobretudo, manter um imóvel histórico devolvendo-lhe vida, uso e ocupação.

O nosso muito obrigado ao Dr. Arthur Almada Lima Filho e aos confrades do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias.