Conto de São Paulo

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São Paulo, dia vinte de novembro. Hora local 07:00hrs da manhã. Chego cedo no Mercado Central para um café para enfrentar a correria das compras no maior centro comercial da América Latina: a rua 25 de março. É fim do mês de novembro, proximidades do natal. Rua cheia.

08:30 da manhã. Entro na Galeria Pagé, conhecido local de mercadorias populares vindas da China e de fabricação duvidosa. Encosto em um guarda corpo para um rápido descanso. Ao lado chega um rapaz no celular. Aflito, voz tremula. Seu sogro foi morto na noite anterior, executado por ser policial. Ligou para o chefe para justificar sua ausência do trabalho. Escuto a conversa toda.

08:45 horas. Nos corredores com espaçamento mínimo onde circula um máximo de pessoas, paro para pedir informações sobre um produto. Sinto uma mão nas minhas costas. Era o lojista do lado me empurrando pois eu estava no espaço de seu comercio e eu estaria atrapalhando seu espaço. O cliente também é um produto.

10:30 horas. Caminho pelo centro até a estação São Bento. No trajeto, pessoas de várias idades dormindo pelas ruas. Provavelmente passaram a madrugada rondando pelas ruas e ainda não levantaram. Com certeza não fizeram a primeira refeição do dia. O odor de maconha e de cola de sapateiro me acompanha por quase todo o caminho. Dentro da estação um rapaz sentado em meio aos transeuntes devora uma quentinha no chão. Não foi preciso talheres.

10:40 horas. Dentro do metrô uma senhora pede a atenção de todos. A dois anos voltando do trabalho ela foi assaltada. O bandido após roubar sua bolsa lhe deu um tiro o que acabou a impossibilitando de trabalhar. Desde então vive da ajuda de desconhecidos. Pouca gente deu importância.

11:00 horas, estação Consolação. O dia não chegou na metade e ainda há várias histórias pela cidade. Caminho para o hotel, mas não sem antes encontrar com Elvis Presley na Paulista.

el1 Eziquio Barros é arquiteto e urbanista.

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